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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Ser pessoa com deficiência''

Texto de Ana Cristina Teixeira Prado fala sobre os desafios para a inclusão

Atualmente, fala-se muito em inclusão: construção de um mundo pra todos, que respeite as peculiaridades de cada um. Mas, a coisa não é tão simples assim! Respeitar alguém vai muito além de caridade e compaixão. Implica, primeiramente, em ver o outro como pessoa dotada de limitações e de potencialidades, possuidora de direitos e deveres... Algumas pessoas pensam que uma limitação anatômica, fisiológica, psicológica e/ou psiquiátrica, faz de quem a tem, menos ser humano, inferior, alienado, à margem da sociedade... Ver o outro como a si mesmo, é tão difícil assim? Trata-se de uma mudança atitudinal - movimento de dentro pra fora. Leituras, cursos, debates, sempre ajudam, mas, não põem fim a esse problema. Para se alterar ou ampliar uma visão, é preciso vivenciar, fazer parte da rotina, conviver de perto em diversos ambientes. Só assim, pode-se enxergar o outro com um olhar crítico. Nós, pessoas com deficiência, precisamos de oportunidades e não de piedade, de direitos igualitários e não de privilégios, de incentivo para superarmos as barreiras que a nossa deficiência nos impõe.

Andando pelas ruas das cidades, nos deparamos o tempo todo com situações absurdas de desrespeito ao ser humano:
- carros nas calçadas;
- edificações sem rampas;
- restaurantes, bares e lanchonetes sem cardápio em Braille;
- pessoas incapazes de se "comunicarem" conosco;
- telefones públicos inacessíveis aos cadeirantes e aos anões.

Isso tudo nos entristece, é claro! Mas, o que mais nos sensibiliza, é a indiferença, o descaso, a falta de credibilidade, enfim, o desconhecimento de que aos olhos do nosso Criador, somos todos iguais e, já que somos filhos deste mesmo Pai, criados a sua imagem e semelhança, merecemos, todos, ser vistos como tal. Porém, isso só vai acontecer, quando nos despirmos de nossos preconceitos. Para isso, é claro, é preciso que as pessoas com deficiência estejam ocupando todos os lugares possíveis, precisamos estar visíveis, provocando questionamentos. Bom, chegamos num ponto chave: para estarmos diante dos olhos de todos, precisamos de oportunidades e, para isso, precisamos ser uma categoria unida, convicta do que queremos, somos e podemos ser, para que, juntos a essas pessoas, que, hoje, nos ignoram, possamos criar a corrente do bem.

Considero inaceitáveis certas situações:
- pôr em julgamento a nossa capacidade profissional;
- considerar-nos como pessoas doentes;
- duvidar da nossa capacidade de ler o mundo através dos nossos sentidos remanescentes;
- desconsiderar nossos sentimentos, pensamentos, crenças...

Sabe, isso dói! Machuca a nossa alma e, muitas das vezes, se não formos pessoas de bem com a gente mesmo, caímos em depressão. Ninguém tem o direito de provocar isso ao outro.

Temos, é claro, que estar unidos, próximos uns dos outros, para construirmos uma sociedade inclusiva. Tenho certeza de que um movimento inclusivo real, só é possível com a participação ativa de pessoas com deficiência, pois somos nós que sabemos do que precisamos e como isso pode ser feito. Só a gente pode falar da gente, porém, todos têm que estar abertos a nos ouvir.

Este dia vai chegar, quando nos conscientizarmos de que o normal é ser diferente e que só assim, tem graça viver!

Precisamos de você para vencermos essa luta e ela está só começando.

Fonte: Rede Saci

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